Tóquio 2020 - Dia 15: Receita campeã tem acarajé, azeite de dendê e vatapá

Publicado  sábado, 7 de agosto de 2021

Montagem sobre fotos de COB e CBF

Tá com fome e quer uma receita de sucesso? Mexa os ingredientes para a massa como Isaquias Queiroz mexe a pá na água, bata o recheio como Hebert Conceição e acrescente um molho experiente como Daniel Alves. Leve ao forno e sirva em uma bandeja dourada. Não tem como não fazer sucesso no fim de semana do dia dos país. Apesar de parecer culinária, essa é uma crônica de esporte.

Isaquias Queiroz, Hebert Conceição e Daniel Alves são atletas e não cozinheiros. Mas têm mais aspectos em comum desses três: todos conquistaram medalha de ouro no décimo quinto dia de competições para o Brasil (Canoagem Velocidade, Boxe e Futebol, respectivamente) e todos são orgulhosamente baianos. Se tem uma terra arretada, porreta de produzir campeões nessa edição dos Jogos de Tóquio é a Bahia. Mesmo lugar de origem de Ana Marcela Cunha, campeã da Maratona Aquática. E que pode produzir mais uma medalhista dourada, Beatriz Ferreira, no último dia de competições. O "país" baiano estaria entre as 20 potências esportivas do mundo. Além de ter uma culinária excelente que deve servir de combustível para tanto campeão. Muito axé!

Foto: Jonne Roriz/COB

Para um bom prato baiano ingredientes frescos e típicos da região são fundamentais. Muitas vezes precisa de um ingrediente úmido, leite ou água, para unir os outros ingredientes secos e deixar a massa mais macia. Esses fluídos precisam de uma batedeira bem forte e constante para deixar a massa homogênea. Tipo como o Isaquias Queiroz. Poucas vezes uma atuação individual foi tão soberana e imponente o remador de Ubaitaba. Na prova da Canoagem Velocidade C-1 1000m, venceu sua semifinal com folga e teve o privilégio de competir na raia central da final, por ter um dos melhores tempos. Desde o início foi destaque pela força e facilidade com que conduzia a canoa. Por determinado tempo, até metade da prova, esteve ao lado do chinês Hao Liu, que ficou com a prata. Serghei Tarnovschi, da Moldávia, que terminou com o bronze, não fez sombra. E por mais que sejam bons países, para a receita tem que ter resistência baiana mesmo. Então Isaquias conseguiu abrir mais de uma canoa de vantagem e terminou a massa em 4min04s408, tempo ideal para dar liga e deixar descansando até juntar com o recheio. Aqui vem uma dica fundamental para dar um diferencial ao sabor. Adicione instruções espanholas para trazer ares mediterrâneos. Isso porque Isaquias tinha o treinador Jesus Morlán, que morreu em 2018, com 52 anos, vítima de câncer no cérebro, e que deixou todo o cronograma de treinos para que seu pupilo cumprisse até os Jogos. Infelizmente, não conseguiu ver a consagração material do ouro, mas não deixou de ser lembrado nessa receita.

Foto: Wander Roberto/COB

O recheio pode ser uma carne ucraniana ao murro. É preciso ter uma mão de tijolo para esmurrar essa carne mais dura com eficiência e solte mais sabor quando for ao forno. Até irá pensar que está apanhando da carne, mas seja persistente e destemido como Hebert Conceição perante Oleksandr Khyzhniak, que batia, mas vinha perdendo a mão nos dois primeiros rounds. Faltando 1min40 a carne vai esmolecer, vai abrir a guarda. Esse é o momento de acertar um cruzado de esquerda na ponta do queixo. O bicho vai se retorcer, vai cair na lona. Quando tentar voltar, o termômetro vai indicar fim do preparo. Pode ter certeza que fez o certo e pode juntar com a massa para ir ao forno. Foi assim que o pugilista de Salvador fez no peso médio. Como uma cena de Rocky Balboa, que já daria por vencido, encontrou um golpe heroico no final e, incomumente, virou a luta com um nocaute. Fato que não acontecia em Olimpíadas há 25 anos. A vitória ficou maior ao saber que o rival não perdia a 62 lutas. Um sabor de ouro inigualável e um recheio maestral para um dia olímpico.

Foto: Gaspar Nóbrega/COB

Por fim, é preciso fazer um molho que vá juntar tudo naquela garfada saborosa quando está experimentando o prato. Aqui pode variar os ingredientes que for colocar, mas é importante ter um caldo grosso, envelhecido, de boa procedência e, de preferência, bem premiado internacionalmente. Uma boa indicação é o vinho Daniel Alves, safra 83, que venha de Juazeiro. Ele fica melhor com o tempo então é importante deixa curá-lo com bastante antecedência. Assim foi o capitão do time brasileiro de Futebol. Os demais ingredientes pareciam que não trariam um bom sabor contra uma paella espanhola na terceira final seguida da seleção em Jogos Olímpicos. Mas a percepção de Daniel Alves, ao salvar uma bola e recolocá-la na área, fez o ingrediente Matheus Cunha brilhar e abrir o placar da decisão. Já vinha tensa porque Richarlison tinha perdido um pênalti no começo e poderia ter azedado a receita. O próprio lateral direito aparentou que iria desandar ao ter sido desligado do fogo e ver Mikel Oyarzabal fazer gol nas suas costas. Mas a experiência desse vinho, já tão apreciado na própria Espanha por tantos anos, deu o caminho para o chef Jardine. Como falado, é melhor com mais tempo para incorpar os outros sabores. Então uma prorrogação, apesar de angustiante para quem já está com fome, deixa o prato com um gratinado especial. Então o chef, que parecia teimar com o que começou a receita, entendeu que precisava acrescentar um Malcom, vindo do banco para dar o toque final. Assim, no segundo tempo da extensão, já com o papel alumínio aberto, um contra-ataque certeiro deu a pincelada que faltava para painho ficar feliz com prato, talheres e guardanapo dourados e se esbaldar de comer o maravilhoso resultado de tantos esforços.


A expectativa do Brasil de vitórias no dia era alta, mas dificilmente pensar que viriam três ouros no mesmo dia, fato que nunca tinha acontecido na história olímpica do país.

Resumo do dia


Duas histórias mundiais fantásticas: ontem Kiyuna Ryo foi o primeiro japonês a conquistar ouro no Caratê e levou a foto da mãe para o pódio: "Depois de vencer, eu gostaria de dizer a minha falecida mãe que eu mantive a promessa de buscar a vitória nas Olimpíadas", declarou o carateca. Não tem como não se emocionar. Hoje, ao vencer o revezamento 4x400m com a equipe americana no Atletismo, Allyson Felix tornou-se a maior medalhista da modalidade, entre mulheres e homens, de toda história. Ela soma 11 medalhas desde Atenas 2004. Superou seu compatriota Carl Lewis, que conquistou dez entre Los Angeles-84 e Atlanta-96.

As medalhas:

  • > Atletismo maratona fem. - (QUE > QUE > EUA) // salto em altura fem. - (RUS > AUS > UCR) //  10000m fem. - (HOL > BAH > ETI) // lançamento de martelo masc. - (IND > CZE > CZE) // 1500 m masc. - (NOR* > QUE > GBR) // rev. 4x400m fem. - (EUA > POL > JAM) // masc. - (EUA > HOL > BOT);
  • > Basquete masc. - (EUA > FRA > AUS) // fem. (disp. bronze FRA 91 x 76 Sérvia);
  • > Beisebol masc. - (JAP > EUA > DOM);
  • > Boxe peso mosca masc. - (GBR > FIL) // fem. - (BUL > TUR) // meio-médio fem. - (TUR > CHN)
  • > Canoagem Velocidade C-2 500m fem. - (CHN > UCR > CAN) // K-4 500m fem. - (HUN > BLR > POL) // K-4 500m masc. - (ALE > ESP > SLK);
  • > Caratê kumitê acima de 61 kg fem. - (EGI > AZE > CAZ/CHN) // acima de 75 kg masc. - (IRA > SAU > TUR/JAP);
  • > Ciclismo de Pista madison masc. - (DIN > GBR > FRA);
  • > Ginástica Rítmica geral individual - (ISR > RUS > BLR);
  • > Golfe fem. - (EUA > JAP > NLZ);
  • > Handebol masc. - (FRA > DIN > ESP);
  • > Hipismo saltos por equipes - (SUE > EUA > BEL);
  • > Luta Olímpica estilo livre até 65 kg masc. - (JAP > AZE > IND/RUS) // até 97 kg masc. - (RUS > EUA > ITA/CUB) // até 50 kg fem. - (JAP > CHN > EUA/AZE);
  • > Natação Artística equipes - (RUS > CHN > UCR);
  • > Pentatlo Moderno masc. - (GBR > EGI > KOR);
  • > Polo Aquático fem. - (EUA > ESP > HUN);
  • > Saltos Ornamentais plataforma 10m masc. - (CHN > CHN > GBR);
  • > Vôlei masc. - (FRA > RUS > ARG) e;
  • > Vôlei de Praia masc. - (NOR > RUS > QAT).
*Estabeleceu novo recorde olímpico

Brasileiros

>A equipe de Ginástica Rítmica ficou com a 12ª colocação nas apresentações iniciais e não avançou.

>Já no Hipismo saltos por equipe, os cavaleiros brasileiros ficaram com a sexta posição na final.

>Grata surpresa ao ver o jovem Kawan Figueiredo Pereira, de 19 anos, que concluiu a prova dos Saltos Ornamentais em 10º.

>O Vôlei masculino perdeu a decisão do bronze por 3 sets a 2 para a Argentina.

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