Ontem foi um dia incrível, de coincidentemente, três histórias que ficam gravadas por muito tempo na nossa memória e que só o esporte pode nos propiciar. São três mulheres que já fazem parte da galeria de grandes personagens desta edição dos Jogos Olímpicos. Três fatos inusitados que deixaram de lado outras conquistas, outros atletas, outras competições.
A mais trágica delas e a que, provavelmente, tenha chamado mais a atenção de todos, veio de um esporte que é pouco praticado aqui no Brasil, mas que deve ter comovido quem estava acompanhando, mesmo que não entendesse as regras, mas só pelo choro da esgrimista sul-coreana A Lam Shin. Devido a uma polêmica na decisão da arbitragem, que a eliminava da final na categoria espada, já que ela tinha empatado no tempo regulamentar com a alemã Britta Heidemann e teria que decidir no tempo extra. No último segundo, houve três investidas das atletas ao mesmo tempo, o que não computou ponto para ninguém (toda ataque que marca ponto de alguém ou toque simultâneo, o cronômetro para e continua quando o juiz sinaliza e o responsável pelo relógio aciona o aparato). Mas como os três ataques foram muito rápidos, não houve tempo para o relógio correr até o zero. Na quarta vez, apenas a alemã conseguiu o toque, que a levaria para a disputa do ouro. O treinador da asiática protestou contra o resultado, alegando que não dava para que ocorressem tantas ações em um segundo de luta e o impasse demorou até que chegassem ao veredito de que a alemã era a real vencedora.
Lam ficou inconsolada, sentou-se no tablado da luta e permaneceu lá chorando por uma hora. Pelas regras da esgrima, ao não deixar o local da luta, significa que a esgrimista não concordou com o resultado da luta. E os árbitros permaneceram discutindo a validade do resultado diante de representantes da delegação coreana. A delegação foi informada que terá que pagar um valor ainda não determinado para apelar do resultado da decisão. Lam foi retirada pelos organizadores e lhe restou ser ovacionada pelo público que permaneceu no local, já que teve apenas 20 minutos para se recuperar do trauma e perdeu a luta pelo bronze para a chinesa Yujie Sun. A alemã também perdeu o ouro para a ucraniana Yana Shemyakina. Mas essa é uma daquelas histórias que torcemos para que tenha um desfecho favorável para compensar toda angústia.
Outro fato impressionante foi a nadadora chinesa Shiwen Ye, de apenas 16 anos, ter batido o recorde mundial dos 400m medley com o tempo de 4min28s43, ficando com a medalha de ouro e sendo a primeira atleta a superar um recorde que tinha sido alcançado com os supertrajes tecnológicos. O mais surpreendente é que na última parcial dos 50m, ela foi mais rápida que Ryan Lochte, vencedor da mesma prova, no masculino. Isso pode ter algumas explicações. Minha hipótese é que simplesmente Lochte diminuíra seu ritmo de prova já que se encontrava muito a frente de seus concorrentes, e mesmo assim chegou a mais de três segundos de vantagem. Se isso não explicar tamanha velocidade da chinesa, quero acreditar que realmente ela tem uma genética muito favorável à natação e que os treinos realizados no país são tão especificamente bons, que outros resultados semelhantes acontecerão em breve; fugindo da suspeita de doping já levantada.
Mas a história mais bonita do dia ficou por conta de uma jovem nadadora de 15 anos, que também tem assombrado o mundo com seu talento. A lituana Ruta Meilutyte conquistou o ouro nos 100m peito com o tempo de 1min05s47 e não conteve as lágrimas de felicidade ao ver o placar ainda na água. Depois voltou a chorar quando ouviu o hino de seu país no pódio. Superou a favorita americana Rebecca Soni, que ficou com a prata. Mas foi uma chegada extremamente apertada, decidida na batida de mão, apenas oito centésimos separaram as duas. Foi a primeira medalha de ouro da Lituânia na história da natação olímpica. Ao receber a medalha, estampava um sorriso de uma criança ao ganhar um novo brinquedo, mas por trás dessa felicidade, já carrega uma responsabilidade de gente grande. Ela ainda disputará os 50m e 100m livre e tem um futuro brilhante pela frente. Só de pensar que ela chegará ao Rio-2016 defendendo o título de campeã olímpica com apenas 19 anos é algo formidável para qualquer atleta. Tenho a impressão que ela ainda não deve ter dado conta das dimensões desse feito. Lembrou o Cesar Cielo há quatro anos, quando subiu ao pódio e comoveu a todos enquanto tocava o hino brasileiro.
Sabe o que elas três têm em comum? Espírito olímpico. Vontade de ser competitivas, de se superar e de não se sentirem derrotadas.
Sabe o que elas três têm em comum? Espírito olímpico. Vontade de ser competitivas, de se superar e de não se sentirem derrotadas.
Para completar, vale mencionar um grupo de guerreiras brasileiras que estão fazendo bonito em Londres. Trata-se das meninas do handebol, que estão no começo do campeonato, mas já venceram duas partidas duríssimas contra as croatas e montenegrinas. Tomara que possam continuar surpreendendo, já que é um esporte tão praticado nas escolas e seria um grande incentivo para aumentar o número de interessados.
Espero que venham mais dessas histórias humanas nesses Jogos.


 
 

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