A história de uma Libertadores

Publicado  quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Uma Libertadores da América pode ser contada de diversas maneiras. Pode-se contar através dos países participantes, o grupo dos argentinos, o grupo dos brasileiros. Pode-se contar pelos multicampeões, como o Independiente e o, sempre temido, Boca Juniors. Ou pode-se contar através dos estreantes que sempre podem causar surpresas, como foi o semifinalista Guaraní do Paraguai.
Mas contar sob a perspectiva do campeão, ou melhor, do tricampeão River Plate é a mais interessante nesse ano. Não foi nada fácil chegar até esta quarta no Monumental de Nuñes para enfrentar e vencer o Tigres do México por 3 a 0.
Mas essa competição começou muito tempo antes para os Millonarios. Essa história inicia-se em 2011, quando passaram pelo maior drama de sua vida, ao serem rebaixados para a série B do campeonato argentino. Era algo impensável, já que o sistema de média de pontos foi criado justamente para favorecer os times mais tradicionais e que era bem difícil deles descenderem. No entanto, o River conseguiu tal feito e teve que passar a temporada seguinte jogando a divisão inferior e aguentando humilhação dos adversários.
A volta por cima partiu com a conquista do campeonato Clausura de 2014, o segundo turno do torneio nacional, disputado no primeiro semestre do ano, foi o 35º triunfo do maior vencedor de Argentinos. No final do ano, veio um grande feito inédito, ao ganhar a Copa Sul-Americana de forma invicta. Aproveitando a ótima fase, esse ano começou levantando mais um troféu: a Recopa Sul-Americana, em cima do San Lorenzo, o time do Papa.
Nessa Libertadores, o River Plate esteve a ponto de não se classificar para as finais. Estava no grupo que o mesmo Tigres que viera a enfrentar na final, porém, na quinta rodada da fase de grupos, vinha de uma derrota e três empates, conseguiu arrancar um empate no México, que lhe deu uma sobrevida. Finalmente, venceu na última rodada e se classificou em último entre os 16.
Pelas combinações de resultado, iria pegar o melhor classificado, ironicamente seu maior rival, Boca Juniors. Foi um episódio marcante, já que os dois duelos serão lembrados pelo excesso de violência e pela idiotice da torcida xenese. O River teve a vantagem mínima no primeiro jogo, em casa. Na Bombonera, estava empatado sem gols, na volta para o segundo tempo, a fanática torcida boquense jogou gás de pimenta no túnel de acesso dos jogadores rivais e não houve condições de continuar a partida. A Comenbol decidiu excluí-los e o River passou.
Depois, a vida não foi facilitada, já que teve que superar nada menos que o atual bicampeão brasileiro, Cruzeiro. Perdeu o primeiro jogo em casa, mas não só recuperou-se fora, como também aplicou um avassalador 3 a 0, um novo Minerazo, menos de um ano depois do fatídico 7 a 1. 
Teve a pausa para a Copa América. Mas o River voltou confiante e não deu chance ao azar contra a zebra Guaraní. Ganhou em casa e segurou o empate fora. Com isso, já tinha garantido lugar no Mundial de Clubes do fim do ano, já que o Tigres, tendo passado para a final no outro lado, não poderia ir ao torneio, por ser um dos mexicanos convidados pela organização.
Mas não bastava. Foi preciso ganhar da segunda melhor campanha. Infelizmente, o regulamento não permitiu que o time convidado decidisse em casa. Assim, o River teve a vantagem de decidir ao lado de mais de 67 mil pessoas, que não pararam de cantar um segundo sequer. Apesar de terem sofrido pressão, os 3 a 0 foram incontestáveis.
19 anos após a última ida à final e a última conquista, o River voltou definitivamente a ser grande e mostrar respeito no continente. Metade de Buenos Aires está em festa, sem previsões para acabar.
As equipes argentinas aproveitam o ótimo momento que vive sua Seleção, com o vice-campeonato mundial do ano passado e a conquista das Américas mais recentemente. Ano passado, foi o San Lorenzo, este o River deu as cartas. Houve uma sequência anterior em que os brasileiros dominaram. Será a vez dos hermanos?

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