Eu tenho uma conduta de relatar/comentar fatos que considero mais relevantes dentro do mundo esportivo, pura e simplesmente esporte. Apesar de entender que não é uma esfera isolada, que há grande influência, principalmente, da política e da economia dentro desse meio, não gosto de comentar esse lado dos bastidores, que envolvem dirigentes, patrocinadores, escândalos, dopings. Isso não significa uma alienação ou falta de engajamento, acompanho o máximo de notícias que trafegam nesse ambiente, mas há outros companheiros de imprensa mais envolvidos e que relatam os ocorridos com a devida competência. A minha torcida é que sempre o esporte sirva de exemplo, de preferência positivo, para outros segmentos da sociedade.
No entanto, é impossível dissociar o que vem acontecendo desde a semana passada, culminando com a renúncia de hoje do presidente da FIFA, órgão máximo do futebol, Joseph Blatter.
Denúncias de corrupção, compra e venda de votos em escolhas de sedes de Copas do Mundo, desvio de dinheiro, sonegação de impostos. Os crimes são os mais variados e, ao que aparenta, todos os principais dirigentes da entidade estão envolvidos. Na última quarta-feira, sete dirigentes foram presos numa ação conjunta do FBI e da polícia da Suíça, entre eles José Maria Marin, ex-presidente da CBF. Isso vem provocando mais denúncias e vazamentos de documentos. A Polícia Federal do Brasil e o Ministério Público passaram a agir internamente, atrás das contas de Ricardo Teixeira e outros cartolas que possam estar envolvidos em casos de corrupção interna ou desvios referentes à Copa do ano passado.
Em seguida, houve a eleição, que Blatter venceu e faria seu quinto mandato. A UEFA ameaçou boicote ao mundial de clubes, especulou-se também de uma não participação no Mundial de 2018. Os europeus declararam apoio ao candidato de oposição, o príncipe da Jordânia Ali bin Al-Hussein. 
Mas essa reeleição seguida da renúncia pode ser considerada uma manobra política do próprio Blatter, para enfraquecer a oposição e dar tempo de criar um candidato da situação para a continuidade, já que o presidente ainda continuará exercendo suas funções até uma reunião extraordinária do Comitê Executivo, que deve acontecer entre dezembro e próximo março. Se tivesse desistido da candidatura, fatalmente, o opositor restante venceria.
Muitas dúvidas pairam a respeito de todo o ocorrido.
A política de inclusão de todos os países à FIFA, levando a Copa do Mundo em lugares com pouca ou nenhuma tradição futebolística, África do Sul, Rússia e Qatar, é realmente benéfico ou faz com quem já esteja no poder se perpetue ainda mais tempo? Uma vez que o voto é igualitário, independentemente do tamanho do país ou da importância dele no futebol, e nações menores acabam escolhendo nomes mais conhecidos em troca de contribuições monetárias.
Blatter renunciou porque já não encontrava mais respaldo de dirigentes que se encontram abaixo na hierarquia e se "cansou" após 40 anos de serviços prestados ou sabe que uma hora ou outra vai sobrar para ele, já que até Jerome Valcke, secretário geral, está envolvido no repasse de dez milhões de dólares da África para federações caribenhas? A renúncia amenizaria uma possível acusação, traria de volta o dinheiro?
Como ficam as competições organizadas pela entidade daqui para frente? Os contratos assinados? Os patrocinadores tem relação com os casos apresentados até agora?
Por que veio à tona esse escândalo às vésperas da eleição? Ninguém sabia disso antes ou é uma forma de oportunismo para atender outros interesses ocultos? De quem seria esses interesses?
Ao que cabe aos Estados Unidos, isso foi porque mexeram nos cofres e sentiram o golpe ou, além disso, tem o fato das próximas Copas serem realizadas em um país historicamente rival (arque inimigo) e um país árabe, respectivamente?
Qual o impacto desse episódio para os lados de cá? Quem estaria no meio da história?
Qual o impacto desse episódio para os lados de cá? Quem estaria no meio da história?
O fato é que o futebol está em descrédito, há muito tempo vem sido afetado, antes num âmbito nacional, agora de forma generalizada. Já era difícil de aceitar as 'trambicagens' feitas por empresários, dirigentes e outros figurões dentro do universo que tínhamos mais acesso, por isso que o futebol brasileiro vem decaindo e se deteriorando, prova disso é só assistir o campeonato local. Mas a situação agora vai mostrando as ruínas de uma rede de corrupção mundial. Se isso vai trazer algum benefício ao esporte ou, depois de um tempo, as coisas vão sossegar e as forças conservadoras voltarão ao poder e à normalidade, ainda vai demorar para saber o desfecho.
Volto a repetir. Que o futebol sirva de exemplo para outros segmentos da sociedade, que sejam punidos os culpados e justiça seja feita, mas que, principalmente, o futebol volte a ser um grande orgulho e motivo de festa, afinal tem torneios importantes acontecendo e o espetáculo continua, aqui, na Europa ou em qualquer lugar do planeta.
 
 

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