Ícones do esporte: Luisinho

Publicado  quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Quarta coluna no Bola Parada


luizinho

Semana passada o Sport Clube Corinthians Paulista comemorou mais um ano de vida. Fiquei pensando aqui com meus botões: "quem que eu poderia trazer de ícone de um dos maiores clubes do país com uma história tão rica? Poderia ser Rivelino, tido como o maior de todos a passar pelo Timão, mas prefiro guardar para outra ocasião. Poderia ser Sócrates, mas achei batido demais. Poderia ser Marcelinho, mas é muito recente e tem um pênalti..." Fui pesquisar um pouco mais para trás na história e cheguei a este grande personagem: Luís Trochillo, ou mais conhecido como Luisinho.
Luisinho é o segundo da esquerda para direita do esquadrão corinthiano
Luisinho é o segundo da esquerda para direita do esquadrão corinthiano
A história que lhes conto hoje é de um atacante que tem alta identificação com o time da Zona Leste de São Paulo e é um daqueles casos que a Fiel adora por sua origem e seus feitos no clube. A começar por onde nasceu. O bairro do Brás, que faz parte da mesma região da cidade, foi onde tudo começou, em 7 de março de 1930. Lá, jogou em campos de várzea e aprendeu as técnicas e malícias do jogo, desenvolveu sua notável habilidade com a bola. Foi direto para o Corinthians com 18 anos e permaneceu, em sua primeira passagem, 14 anos seguidos no clube, de 1948 a 1962. Durante este período, em uma excursão que o time fez pela Europa em 1952, ganhou apelido de "Pequeno Polegar", devido a seus 1,64 m, uma alusão ao herói do livro que facilmente se desvencilhava dos ogros, tal como o atacante fazia com os brutamontes europeus.
Nesta época também que ganhou todos os títulos de sua carreira, fosse pelo clube paulista que defendia fosse pela sua breve passagem na Seleção. Os principais foram os Campeonatos Paulistas de 1951, no qual fez parte do ataque dos sonhos corinthiano, ao lado de Cláudio e Baltazar, ataque responsável por marcar 103 gols em uma edição do torneio, recorde que dificilmente será alcançado; de 1952, o bicampeonato; e 1954, esta edição especial do IV Centenário da cidade e ele foi o autor do gol de cabeça da vitória sobre o maior rival, Palmeiras. Rival este que ele adorava marcar seus tentos, ao todo foram 21 bolas postas nas redes alviverdes, o maior carrasco da história do Derby. Diz a lenda que, de tão habilidoso e atrevido, pôs um marcador palmeirense para dançar, colocando a redonda através das pernas do adversário algumas vezes, que acabou caindo no chão. Luisinho resolveu esperar sentado na bola para continuar driblando o jogador, tamanho era o deboche. Além destes Paulistas, destaca-se os Torneios Rio-SP de 1950, 53 e 54. Depois disso até ganhou outros troféus de menor expressão, mas amargou boa parte do que é considerado o período de maior jejum da história do clube, que só seria sanado em 77.
Raro registro de Luisinho (direita) com a camisa do Juventus, ao lado de Joaquimzinho
Raro registro de Luisinho (direita) com a camisa do Juventus, ao lado de Joaquimzinho
Só saiu do time porque teve um desentendimento com o técnico que o comandava na época. Teve uma passagem de dois anos pelo Juventus da Moóca, mas não há muitos registros a respeito de seus jogos com o clube.
Regressou em 1964 para o Timão e encerrou sua carreira três anos mais tarde. Ao todo, disputou 603 partidas com a camisa alvinegra, é o segundo atleta que mais vezes vestiu essa camisa, tendo sido superado apenas por Wladimir nos anos 80. Fez 175 gols, o que o torna o sétimo maior artilheiro da história corinthiana. Nunca se desligou do clube, foi chamado para ser técnico interino em algumas oportunidades. Em 1994, ganhou um busto dentro do Parque São Jorge.
Despedida no Pacaembu
Despedida no Pacaembu
Uma curiosidade interessante foi que, em 25 de janeiro 1996, quando já tinha 65 anos, na partida amistosa entre Corinthians e Coritiba, disputada no Pacaembu, ele foi chamado para jogar e esteve em campo por cinco minutos, se tornando o jogador mais velho a atuar pelo time. Esta partida marcou a estreia do atacante Edmundo pelo Timão.
Serviu à Seleção brasileira em onze oportunidades e marcou um gol, justamente contra a Argentina, em 1956, e pôs fim a dez anos sem vencer os hermanos. Com a amarelinha conquistou quatro títulos de pouca expressão, o mais conhecido a Copa Rocca de 57. Até chegou a ser cotado para o Mundial de 58, mas não entrou na lista final.
Morreu com 67 anos, em janeiro de 1998, por conta de complicações respiratórias. Mas certamente está vivo na memória dos torcedores mais antigos do time de Itaquera e é um dos mais queridos. Sua história está devidamente guardada e reconhecida. É um grande personagem que serve para homenagear um pouco dos 107 anos recém completados do "time do povo".

Coluna publicada originalmente em 7 de setembro de 2017

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