Tênis brasileiro: muito suor e... só!

Publicado  quinta-feira, 13 de abril de 2017

Nestas últimas semanas pudemos acompanhar de perto a quantas anda o tênis masculino brasileiro, primeiro com o Rio Open, um ATP 500 de grande importância, e depois o Brasil Open, um ATP 250 que não tem a mesma grandeza em termos de pontuação e premiação, mas seria igualmente significativo caso um brasileiro ganhasse. Quem acompanha o circuito mundial, quem vê o ranking percebe que não estamos tão bem, e isso já não é uma novidade. Faz tempo que deixamos de ter nomes competitivos nos grandes torneios. Os duplistas têm salvo a honra nacional com feitos significativos, mas ainda sim sem o devido reconhecimento.
Durante o fim de fevereiro e este começo de mês tivemos dois torneios que fazem parte da rota de preparação para Roland Garros, segundo Grand Slam do ano, único disputado em piso de saibro. A participação de brasileiros foi expressiva tanto no Rio como em São Paulo. Quatro tenistas jogaram a chave principal do torneio carioca. No segundo campeonato, que terminou esse fim de semana, seis atletas “pratas da casa” tiveram a chance de mostrar sua qualidade nas quadras do clube Pinheiros. Todos contaram com uma torcida que se fez bastante presente e barulhenta, mesmo assim, o melhor resultado foi a quarta-de-final alcançada por Thiago Monteiro, jovem cearense de 22 anos, no Jóquei Club fluminense. Por mais que tenham se esforçado ao máximo, isso me parece pouco, pensando numa perspectiva de que são os melhores do país e sua representatividade mundial. É um sinal claro de que nossa evolução nesse esporte está estagnada, ou caminhando a passos muito vagarosos. Para fazermos um comparativo, nossos hermanos argentinos trouxeram sete tenistas para os mesmos torneios. Ainda que não tenham conquistados melhores resultados que os nossos, eles podem comemorar ter nove atletas entre o Top 100, incluindo Juan Martín del Potro e Juan Mónaco, que não competiram no saibro tupiniquim.
Não acompanhei tão de perto o ATP 500 carioca, mas acompanhei in loco as disputas do torneio paulista. Na terça vi partidas de primeira rodada de quatro brasileiros, Rogério Dutra Silva (Rogerinho), João Souza (Feijão), Thiago Monteiro e Thomaz Bellucci. Dentre eles, apenas Feijão obteve êxito e seguiu para enfrentar Albert Ramos-Viñolas, espanhol cabeça-de-chave número 1 do torneio, e contra quem não conseguiu repetir o feito.
Por diferentes motivos, cada um deles foram caindo para estilos diferentes, fossem vindos da Europa ou América do Sul. Rogerinho perdeu para o italiano Alessandro Giannessi, que veio do qualifying, e foi tecnicamente superior ao paulista. Thiago Monteiro, por sua vez, não teve tanta intensidade como o argentino Carlos Berlocq, até começou melhor, mas foi superado na resistência de jogo de fundo. Thomaz Bellucci é o caso mais complexo e que acho que deveria ser estudado. Como um atleta consegue ganhar na semana anterior de um Top 10, como o japonês Kei Nishikori num ótimo 2 sets a 0 e sofrer um avassalador 6-2/6-0 na estreia contra o argentino Diego Schwartzman, número 44 do mundo? Foi o pior jogo do torneio, o mais fraco. Desde o início da partida, o público já tinha a impressão que não precisaria gastar forças torcendo, o número 1 do Brasil parecia jogar sem vontade, como se estivesse sido obrigado a estar presente. Não consigo entender, por mais que não canse de acreditar em seu potencial, de quem já chegou a ser 21º do mundo, mas que não tem cabeça para aguentar a intensidade de uma semana de jogos.
Obviamente são casos específicos, pequenas amostras, mas que trazem um parâmetro de como estamos longe de sermos competitivos mundo a fora. Vivemos de challengers e convites para torneios maiores. A grande esperança para um futuro melhor é o Thiago Monteiro, que tem muito potencial para desenvolver, com apenas 22 anos já está entre os 80 melhores e crescendo, já está equivalente a Thomaz Bellucci, que tem sete anos a mais de experiência no circuito mundial.
Por incrível que possa parecer, somos um país que vamos melhor nas duplas. Bruno Soares e Marcelo Melo são os grandes expoentes dessa categoria. Bruno joga com o britânico Jamie Murray e, apesar de não terem ido bem no Rio, estão entre as principais duplas mundiais. Marcelo Melo tem como principal parceiro o croata Ivan Dodig e também está entre os dez melhores duplistas.
Na capital paulista, André Sá e Rogerinho salvaram essa quinzena com o título em cima de outra dupla que tinha brasileiro envolvido, Marcelo Demoliner, que fez parceria com o neozelandês Marcus Daniell. Pude acompanhar mais essas duplas no sábado, durante as semifinais. Por mais que tenham ido bem, não dá para pensar em grandes resultados em torneios maiores. Nem mesmo daqueles considerados melhores. Quando havia a expectativa de Bruno Soares e Marcelo Melo conquistarem uma inédita medalha nos Jogos Olímpicos do Rio, tudo foi por água abaixo com uma derrota nas quartas-de-final, contra uma dupla romena, que levaria a prata.
O acumulo de fracassos se estende à Copa Davis. Enquanto vemos nossos vizinhos conquistando a principal competição por países, nós continuamos tentando acesso ao grupo principal, jogando contra Equador, Chile, Colômbia, países inexpressivos. É mais um dos casos de esportes que tivemos um ícone e não aproveitamos para criar outras gerações vencedoras. Infelizmente continuamos aguardando um novo Guga ou, no feminino, Maria Esther Bueno para torcer para a modalidade se fortalecer dentro do país.
Para completar, a cereja do bolo veio hoje, com o ex-presidente da CBT, Jorge Lacerda, deixando o cargo após 13 anos de mandato. Há acusações contra o dirigente desde o fim do ano passado de desvio de dinheiro público por meio de um convênio com o Ministério do Esporte. É um completo deboche para com quem realmente está preocupado com a modalidade. Quem assume em seu lugar é Rafael Westrupp, que já fazia parte da administração da entidade, com a promessa de ouvir mais os atletas e outros profissionais do ramo. Já ouviu essa conversa em algum outro momento, alguma outra modalidade? Como dar credibilidade? 

Coluna publicada originalmente em 06/03/17

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