A esperança vem do mesmo lugar

Publicado  quinta-feira, 13 de abril de 2017

Certamente alguém já te perguntou ou você mesmo se questionou: como você se vê daqui cinco anos? E sua resposta vai ser em um tom otimista: “Vou ingressar numa faculdade, concluir minha pós, estarei casado(a), filhos, vou conseguir minha aposentadoria”, certo? E se eu te perguntar como você vê o esporte brasileiro daqui três anos? Você pensaria com o mesmo otimismo ou teria uma perspectiva mais negativa?
Se sua resposta for a segunda alternativa, não te culpo. Tudo o que temos visto em termos de notícias do desporto olímpico nacional já reportadas aqui nesta coluna e em tantas notas do Surto Olímpico não são boas, não favorecem um pensamento melhor. Mas o que move o ser humano, principalmente, nós brasileiros é a esperança de uma melhora. No caso olímpico, devemos nos apegar àqueles que já são vitoriosos e motivos de orgulho.
Caso me perguntassem sobre quem eu esperaria alguma coisa, diria para torcermos por aquelas modalidades que já são tradicionais de conquistas: judô, que é o carro-chefe de medalhas e já começam o ciclo com bons resultados, vela, vôlei de quadra e de areia e ginástica artística são modalidades que têm um trabalho consolidado, bem feito e parecem não ser afetadas com o que está ocorrendo no panorama geral, depois vem outras como tênis nas duplas, handebol feminino, luta olímpica, salto com vara, canoagem, maratona aquática.
É difícil fazer um prognóstico, projetar mais medalhas do que a média dos últimos Jogos Olímpico de um número em torno de 14 conquistas. Teremos muitos campeonatos mundiais e outras competições importantes para observar. Como ainda estamos no início, há tempo para que despontem novos talentos e alguém surpreenda.
Continuando na linha mais otimista, devemos acreditar que a situação do país como um todo vai melhorar aos poucos. Com isso, empresas devem se animar em financiar esportes e atletas de ponta e campeões surjam em outras modalidades.
Mesmo assim, o sonho de ser uma potência olímpica permanecerá distante. Enquanto não houver a mentalidade de investir em modalidades como esgrima, levantamento de peso, badminton, tênis de mesa, atletismo, a natação e outros esportes aquáticos, lutas como boxe e taekwondo, que são esportes que trazem grande número de medalhas, teremos que nos contentar com essa estimativa e uma colocação no bloco do meio do ranking mundial.
O que pode melhorar essa contagem é os novos esportes que farão parte dos Jogos a partir de Tóquio-2020. Surfe e skate nos trazem mais esperança. O fato de termos campeões nas pranchas com quilhas e sobre rodas nos fazem acreditar em conquistas inéditas. O caratê também pode ser uma surpresa, arte marcial em geral é algo que atrai o brasileiro. Devemos ficar de olho em Gabriel Medina, Adriano Souza, toda a Brazilian Storm das águas, Pedro Barros, Mineirinho e a molecada que compete nos Bowls e rampas da vida.
Dias melhores por vir, é o que podemos esperar no esporte e na situação político-econômica do país.

Coluna publicada originalmente em 03/04/17

E o Prêmio Brasil Olímpico vai para...!

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No final deste mês de março acontecerá finalmente a premiação dos melhores do ano de 2016. A 18ª, e mais importante, edição da premiação anual vem com atraso de três meses, mais um sinal da ótima organização de como o esporte olímpico brasileiro é tratado. A causa desse atraso foi por conta da greve dos funcionários do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Justamente na edição que é para celebrar as conquistas obtidas em casa e que serviria para camuflar incompetências vindas das entidades envolvidas com os Jogos.
Mas este adiamento foi ruim justamente para governantes e confederações, que deixaram ser exposto o que há de pior na administração esportiva no nosso país. Para os atletas, é uma premiação que vem em hora errada, ao invés de acontecer em dezembro, no fim do ano e de um ciclo completo, acontece num momento em que já tiveram competições importantes, como é o caso do Mundial de Handebol Masculino, ou que estarão competindo, caso de Bruno Soares no tênis e Nenê Hilário no basquete.
Aliás, chamar esse evento de Brasil Olímpico é quase uma piada de mau gosto. Como podemos dizer que somos olímpicos com tantos descasos com nossos atletas, técnicos e instalações. Temos visto notícias seguidas de desvio de verba, encerramentos de contratos de patrocínio, treinadores estrangeiros voltando a seus países de origem, Parque Olímpico abandonado, atletas que não poderão competir por falta de investimentos, isso sem mencionar a base, o futuro competitivo do país.
Esse prêmio é considerado o Oscar do esporte brasileiro. Como tal, irão concorrer para melhor “ator” Isaquias Queiroz, maior medalhista brasileiro em uma só edição de Jogos e vencedor da última edição do prêmio; Serginho, líbero que foi bicampeão olímpico com a seleção de vôlei; e Thiago Braz, atleta do salto com vara que conseguiu um ouro inédito além do recorde olímpico. Para melhor “atriz”, a dupla Martine Grael e Kahena Kunze, que conquistaram o primeiro lugar na vela classe 49er FX; Poliana Okimoto, bronze na Olimpíada e vice-campeã mundial na maratona aquática; e Rafaela Silva, com o ouro no peso leve para as mulheres no judô. Meus palpites são que Serginho e a judoca carioca Rafaela levam, mesmo achando que o Thiago merecesse mais nos homens.
Da mesma forma que a premiação famosa do cinema, há prêmios para “atores coadjuvantes”, atletas premiados por cada modalidade, esses já nomeados os vencedores. Aqui cabe uma ressalva a dois prêmios: no basquete, o prêmio ser dado ao Nenê é muito contrastante. O atleta aparece para jogar na Seleção somente quando ocorrem os principais torneios, Olimpíada e Mundial. Nas demais competições, tem contusões ou pede dispensa. Na Seleção, não chama responsabilidade, se omite e não conduz o time a vitórias importantes, não tem conquistas nem como jogador da NBA. A segunda é no futebol, dar o prêmio ao Neymar parece muita politicagem. Nada contra o jogador, pelo contrário. Mas em dois jogos na campanha vitoriosa do Rio passou em branco, em dois desastrosos 0 a 0. A torcida gritou que Marta era melhor que ele. Um jogador sub-23 ou uma jogadora seria mais justo.
Mas falta um prêmio, melhor “diretor”. Existe o de técnico do ano. Não é disso que estou falando. Seria para aquele dirigente, entidade ou confederação que mais prejudicou o esporte. Teríamos vários concorrentes: Carlos Arthur Nuzman seria o principal concorrente, mas poderíamos dar a Sérgio Cabral, Eduardo Paes, consórcio do Maracanã, CBDA, CBT, CBTKD, Nike, Nissan, Bradesco, Governo Federal atual e do passado recente, com seus programas assistenciais baratos e falta de política de desenvolvimento através do esporte.
Infelizmente esse lado é criticado por quem está de fora e apenas vê os fatos se sucedendo. Muitas vezes quem está desse outro lado, está inserido num contexto em que não há voz ou logo é abafada, como em tantas outras áreas corruptas do nosso país. Resta-nos aplaudir os heróis que vimos correr, saltar, nadar, sabendo que fazem um esforço hercúleo para simplesmente estarem lá e torcer que o cenário geral melhore.

Coluna originalmente publicada em 20/03/17

Tênis brasileiro: muito suor e... só!

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Nestas últimas semanas pudemos acompanhar de perto a quantas anda o tênis masculino brasileiro, primeiro com o Rio Open, um ATP 500 de grande importância, e depois o Brasil Open, um ATP 250 que não tem a mesma grandeza em termos de pontuação e premiação, mas seria igualmente significativo caso um brasileiro ganhasse. Quem acompanha o circuito mundial, quem vê o ranking percebe que não estamos tão bem, e isso já não é uma novidade. Faz tempo que deixamos de ter nomes competitivos nos grandes torneios. Os duplistas têm salvo a honra nacional com feitos significativos, mas ainda sim sem o devido reconhecimento.
Durante o fim de fevereiro e este começo de mês tivemos dois torneios que fazem parte da rota de preparação para Roland Garros, segundo Grand Slam do ano, único disputado em piso de saibro. A participação de brasileiros foi expressiva tanto no Rio como em São Paulo. Quatro tenistas jogaram a chave principal do torneio carioca. No segundo campeonato, que terminou esse fim de semana, seis atletas “pratas da casa” tiveram a chance de mostrar sua qualidade nas quadras do clube Pinheiros. Todos contaram com uma torcida que se fez bastante presente e barulhenta, mesmo assim, o melhor resultado foi a quarta-de-final alcançada por Thiago Monteiro, jovem cearense de 22 anos, no Jóquei Club fluminense. Por mais que tenham se esforçado ao máximo, isso me parece pouco, pensando numa perspectiva de que são os melhores do país e sua representatividade mundial. É um sinal claro de que nossa evolução nesse esporte está estagnada, ou caminhando a passos muito vagarosos. Para fazermos um comparativo, nossos hermanos argentinos trouxeram sete tenistas para os mesmos torneios. Ainda que não tenham conquistados melhores resultados que os nossos, eles podem comemorar ter nove atletas entre o Top 100, incluindo Juan Martín del Potro e Juan Mónaco, que não competiram no saibro tupiniquim.
Não acompanhei tão de perto o ATP 500 carioca, mas acompanhei in loco as disputas do torneio paulista. Na terça vi partidas de primeira rodada de quatro brasileiros, Rogério Dutra Silva (Rogerinho), João Souza (Feijão), Thiago Monteiro e Thomaz Bellucci. Dentre eles, apenas Feijão obteve êxito e seguiu para enfrentar Albert Ramos-Viñolas, espanhol cabeça-de-chave número 1 do torneio, e contra quem não conseguiu repetir o feito.
Por diferentes motivos, cada um deles foram caindo para estilos diferentes, fossem vindos da Europa ou América do Sul. Rogerinho perdeu para o italiano Alessandro Giannessi, que veio do qualifying, e foi tecnicamente superior ao paulista. Thiago Monteiro, por sua vez, não teve tanta intensidade como o argentino Carlos Berlocq, até começou melhor, mas foi superado na resistência de jogo de fundo. Thomaz Bellucci é o caso mais complexo e que acho que deveria ser estudado. Como um atleta consegue ganhar na semana anterior de um Top 10, como o japonês Kei Nishikori num ótimo 2 sets a 0 e sofrer um avassalador 6-2/6-0 na estreia contra o argentino Diego Schwartzman, número 44 do mundo? Foi o pior jogo do torneio, o mais fraco. Desde o início da partida, o público já tinha a impressão que não precisaria gastar forças torcendo, o número 1 do Brasil parecia jogar sem vontade, como se estivesse sido obrigado a estar presente. Não consigo entender, por mais que não canse de acreditar em seu potencial, de quem já chegou a ser 21º do mundo, mas que não tem cabeça para aguentar a intensidade de uma semana de jogos.
Obviamente são casos específicos, pequenas amostras, mas que trazem um parâmetro de como estamos longe de sermos competitivos mundo a fora. Vivemos de challengers e convites para torneios maiores. A grande esperança para um futuro melhor é o Thiago Monteiro, que tem muito potencial para desenvolver, com apenas 22 anos já está entre os 80 melhores e crescendo, já está equivalente a Thomaz Bellucci, que tem sete anos a mais de experiência no circuito mundial.
Por incrível que possa parecer, somos um país que vamos melhor nas duplas. Bruno Soares e Marcelo Melo são os grandes expoentes dessa categoria. Bruno joga com o britânico Jamie Murray e, apesar de não terem ido bem no Rio, estão entre as principais duplas mundiais. Marcelo Melo tem como principal parceiro o croata Ivan Dodig e também está entre os dez melhores duplistas.
Na capital paulista, André Sá e Rogerinho salvaram essa quinzena com o título em cima de outra dupla que tinha brasileiro envolvido, Marcelo Demoliner, que fez parceria com o neozelandês Marcus Daniell. Pude acompanhar mais essas duplas no sábado, durante as semifinais. Por mais que tenham ido bem, não dá para pensar em grandes resultados em torneios maiores. Nem mesmo daqueles considerados melhores. Quando havia a expectativa de Bruno Soares e Marcelo Melo conquistarem uma inédita medalha nos Jogos Olímpicos do Rio, tudo foi por água abaixo com uma derrota nas quartas-de-final, contra uma dupla romena, que levaria a prata.
O acumulo de fracassos se estende à Copa Davis. Enquanto vemos nossos vizinhos conquistando a principal competição por países, nós continuamos tentando acesso ao grupo principal, jogando contra Equador, Chile, Colômbia, países inexpressivos. É mais um dos casos de esportes que tivemos um ícone e não aproveitamos para criar outras gerações vencedoras. Infelizmente continuamos aguardando um novo Guga ou, no feminino, Maria Esther Bueno para torcer para a modalidade se fortalecer dentro do país.
Para completar, a cereja do bolo veio hoje, com o ex-presidente da CBT, Jorge Lacerda, deixando o cargo após 13 anos de mandato. Há acusações contra o dirigente desde o fim do ano passado de desvio de dinheiro público por meio de um convênio com o Ministério do Esporte. É um completo deboche para com quem realmente está preocupado com a modalidade. Quem assume em seu lugar é Rafael Westrupp, que já fazia parte da administração da entidade, com a promessa de ouvir mais os atletas e outros profissionais do ramo. Já ouviu essa conversa em algum outro momento, alguma outra modalidade? Como dar credibilidade? 

Coluna publicada originalmente em 06/03/17

Alonso na Indy

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