Nestas últimas semanas pudemos acompanhar de perto a quantas
anda o tênis masculino brasileiro, primeiro com o Rio Open, um ATP 500 de
grande importância, e depois o Brasil Open, um ATP 250 que não tem a mesma
grandeza em termos de pontuação e premiação, mas seria igualmente significativo
caso um brasileiro ganhasse. Quem acompanha o circuito mundial, quem vê o
ranking percebe que não estamos tão bem, e isso já não é uma novidade. Faz
tempo que deixamos de ter nomes competitivos nos grandes torneios. Os duplistas
têm salvo a honra nacional com feitos significativos, mas ainda sim sem o
devido reconhecimento.
Durante o fim de fevereiro e este começo de mês tivemos dois
torneios que fazem parte da rota de preparação para Roland Garros, segundo
Grand Slam do ano, único disputado em piso de saibro. A participação de
brasileiros foi expressiva tanto no Rio como em São Paulo. Quatro tenistas
jogaram a chave principal do torneio carioca. No segundo campeonato, que
terminou esse fim de semana, seis atletas “pratas da casa” tiveram a chance de
mostrar sua qualidade nas quadras do clube Pinheiros. Todos contaram com uma
torcida que se fez bastante presente e barulhenta, mesmo assim, o melhor
resultado foi a quarta-de-final alcançada por Thiago Monteiro, jovem cearense de
22 anos, no Jóquei Club fluminense. Por mais que tenham se esforçado ao máximo,
isso me parece pouco, pensando numa perspectiva de que são os melhores do país
e sua representatividade mundial. É um sinal claro de que nossa evolução nesse
esporte está estagnada, ou caminhando a passos muito vagarosos. Para fazermos
um comparativo, nossos hermanos argentinos trouxeram sete tenistas para os
mesmos torneios. Ainda que não tenham conquistados melhores resultados que os
nossos, eles podem comemorar ter nove atletas entre o Top 100, incluindo Juan
Martín del Potro e Juan Mónaco, que não competiram no saibro tupiniquim.
Não acompanhei tão de perto o ATP 500 carioca, mas
acompanhei in loco as disputas do torneio paulista. Na terça vi partidas de
primeira rodada de quatro brasileiros, Rogério Dutra Silva (Rogerinho), João
Souza (Feijão), Thiago Monteiro e Thomaz Bellucci. Dentre eles, apenas Feijão
obteve êxito e seguiu para enfrentar Albert Ramos-Viñolas, espanhol
cabeça-de-chave número 1 do torneio, e contra quem não conseguiu repetir o
feito.
Por diferentes motivos, cada um deles foram caindo para
estilos diferentes, fossem vindos da Europa ou América do Sul. Rogerinho perdeu
para o italiano Alessandro Giannessi, que veio do qualifying, e foi
tecnicamente superior ao paulista. Thiago Monteiro, por sua vez, não teve tanta
intensidade como o argentino Carlos Berlocq, até começou melhor, mas foi
superado na resistência de jogo de fundo. Thomaz Bellucci é o caso mais
complexo e que acho que deveria ser estudado. Como um atleta consegue ganhar na
semana anterior de um Top 10, como o japonês Kei Nishikori num ótimo 2 sets a 0
e sofrer um avassalador 6-2/6-0 na estreia contra o argentino Diego
Schwartzman, número 44 do mundo? Foi o pior jogo do torneio, o mais fraco.
Desde o início da partida, o público já tinha a impressão que não precisaria
gastar forças torcendo, o número 1 do Brasil parecia jogar sem vontade, como se
estivesse sido obrigado a estar presente. Não consigo entender, por mais que
não canse de acreditar em seu potencial, de quem já chegou a ser 21º do mundo,
mas que não tem cabeça para aguentar a intensidade de uma semana de jogos.
Obviamente são casos específicos, pequenas amostras, mas que
trazem um parâmetro de como estamos longe de sermos competitivos mundo a fora.
Vivemos de challengers e convites para torneios maiores. A grande esperança
para um futuro melhor é o Thiago Monteiro, que tem muito potencial para
desenvolver, com apenas 22 anos já está entre os 80 melhores e crescendo, já
está equivalente a Thomaz Bellucci, que tem sete anos a mais de experiência no
circuito mundial.
Por incrível que possa parecer, somos um país que vamos
melhor nas duplas. Bruno Soares e Marcelo Melo são os grandes expoentes dessa
categoria. Bruno joga com o britânico Jamie Murray e, apesar de não terem ido
bem no Rio, estão entre as principais duplas mundiais. Marcelo Melo tem como
principal parceiro o croata Ivan Dodig e também está entre os dez melhores
duplistas.
Na capital paulista, André Sá e Rogerinho salvaram essa
quinzena com o título em cima de outra dupla que tinha brasileiro envolvido,
Marcelo Demoliner, que fez parceria com o neozelandês Marcus Daniell. Pude
acompanhar mais essas duplas no sábado, durante as semifinais. Por mais que
tenham ido bem, não dá para pensar em grandes resultados em torneios maiores.
Nem mesmo daqueles considerados melhores. Quando havia a expectativa de Bruno
Soares e Marcelo Melo conquistarem uma inédita medalha nos Jogos Olímpicos do
Rio, tudo foi por água abaixo com uma derrota nas quartas-de-final, contra uma
dupla romena, que levaria a prata.
O acumulo de fracassos se estende à Copa Davis. Enquanto
vemos nossos vizinhos conquistando a principal competição por países, nós
continuamos tentando acesso ao grupo principal, jogando contra Equador, Chile,
Colômbia, países inexpressivos. É mais um dos casos de esportes que tivemos um
ícone e não aproveitamos para criar outras gerações vencedoras. Infelizmente
continuamos aguardando um novo Guga ou, no feminino, Maria Esther Bueno para torcer
para a modalidade se fortalecer dentro do país.
Para completar, a cereja do bolo veio hoje, com
o ex-presidente da CBT, Jorge Lacerda, deixando o cargo após 13 anos de
mandato. Há acusações contra o dirigente desde o fim do ano passado de desvio
de dinheiro público por meio de um convênio com o Ministério do Esporte. É um
completo deboche para com quem realmente está preocupado com a modalidade. Quem
assume em seu lugar é Rafael Westrupp, que já fazia parte da administração da
entidade, com a promessa de ouvir mais os atletas e outros profissionais do
ramo. Já ouviu essa conversa em algum outro momento, alguma outra modalidade?
Como dar credibilidade? 
Coluna publicada originalmente em 06/03/17