Um clube que nasceu para ser grande

Publicado  quarta-feira, 30 de novembro de 2016



O futebol deve ser a maior invenção da humanidade, capaz de provocar as mais diversas reações, separa amigos por uma rivalidade, une povos em busca de um ideal, para guerras, cria heróis e vilões, iguala as pessoas dentro de um campo com o simples objetivo de empurrar uma bola para dentro de uma meta. Por conta disso, tomamos partido e adotamos um lado para torcer como se fosse o certo, o bom e todo adversário é o lado mal.
O jornalismo, seja qual vertente for, mas principalmente o esportivo (o qual me vejo inserido há mais de seis anos) tem a questão da isenção, da imparcialidade. Então, por mais que haja o lado torcedor, o lado profissional prevalece e é usado para contar histórias e mostrar personagens.
Frequentemente esses dois mundos se entrelaçam. Dessa forma, estava o voo que levava profissionais da Associação Chapecoense de Futebol e do jornalismo para realizar seus respectivos trabalhos. Infelizmente suas jornadas foram encerradas. Mais que isso, 76 mortes de seres humanos, de pessoas que tinham projetos e sonhos, que deixam famílias desamparadas.
Todas e quaisquer homenagens são ínfimas perto da maior tragédia esportiva de todos os tempos, mas são muito válidas para buscarmos suporte e seguirmos em frente, principalmente para trazer algum conforto, trazer o lado mais humano e solidário que existe em cada um para aqueles que foram mais diretamente afetados.
Mesmo assim, não há como não se comover com a trajetória de um clube como a Chapecoense. Um clube que nasceu há 43 anos, cresceu, se estruturou para subir das divisões inferiores para até se manter na elite nacional, disputar títulos. É destinado a ser um dos grandes, um gigante. Um exemplo de boa administração, que luta pelos caminhos corretos para ascender e ganhar o devido reconhecimento. Todo trabalhador que batalha pelo seu sustento se identifica com essa luta. Todo brasileiro que acompanha minimamente o futebol torcia pelo seu sucesso na inédita final que protagonizaria no campeonato interclubes sul-americano contra o Atlético Nacional de Medellín. Os relatos só entristecem mais o que ocorreu, principalmente daqueles que não puderam ir por algum motivo. Mais doloroso será quando ouvirmos àqueles que sobreviveram.
Se há um lado bonito é saber como a globalização pode ajudar a transmitir mensagens positivas de todas as partes, de todos os continentes, de outras modalidades esportivas, de outras esferas sociais, como foi as palavras vindas de um líder religioso como o Papa Francisco.
Mais do que um troféu que os comandados de Caio Júnior poderiam ganhar, a Chape conquistou o maior feito que é possível, o respeito, o reconhecimento, a notoriedade mundial. O mundo ficou pequeno para a grandiosidade que esse clube representa.
Quis o destino que seu último jogo fosse contra o Palmeiras, um time que leva as mesmas cores verde e branco que o clube catarinense. Tal partida serviu para decretar o clube paulista pentacampeão do campeonato brasileiro ou eneacampeão nacional, com a derrota dos Guerreiros de Condá. Mas o futebol é tão fantástico que a Chapecoense teria uma chance de marcar seu nome na história da modalidade sendo campeã contra outro time alviverde. No entanto, as imagens vistas em seu estádio são muito mais significativas, seu torcedores tomaram as arquibancadas para entoar gritos de incentivo.
O verde é tida como a cor da esperança e o branco representa a paz. Assim, a entidade Chapecoense representa uma nova página do esporte, que traga mais união não apenas no momento de dor aguda, mas também nos futuros encontros esportivos entre outros clubes. Representa também a esperança de reconstrução de sua bonita e vitoriosa história. Que o vice presidente Ivan Tozzo e outros dois dirigentes que não viajaram continuem a mostrar sua competência para, agora, reerguer esse time que mora em nossos corações. Que a vida dos familiares e amigos de todos os profissionais envolvidos nessa tragédia possa retomar uma rotina, mesmo que com um vazio, o mais breve possível.
Hoje estou muito triste com tudo o que vi e com o que aconteceu. Chorei muito e ainda choro. Chorei assim com a morte do Ayrton Senna, acho que ainda chorarei por muito tempo e por outras ocasiões nesse meio. Não há como ficar indiferente.
Sendo jornalista, tenho profunda admiração aos 21 colegas de profissão que, por muitas vezes, abdicaram de um conforto familiar para levar um fato noticiável, tiveram que trabalhar em seguidos plantões, como exige o ofício. Me espelho nas histórias de vida deles para seguir buscando ser um profissional melhor, uma pessoa melhor. Uso o que acredito ter de melhor, as palavras desse texto, para deixar minha homenagem a tudo isso que ocorreu nesse fatídico dia 29 de novembro de 2016.