Ponha-se na situação do Schalke no jogo de ontem à tarde pela Champions League: enfrentar o Real Madrid, o atual campeão mundial, com o melhor jogador dos últimos dois anos, num confronto de oitavas-de-final, vindo de uma derrota em casa no primeiro jogo por 2 a 0, tendo que reverter em pleno Santiago Bernabeu. Qual o pensamento natural? "Vai ser difícil, vamos fazer o melhor, já esperando um milagre, o Real vai golear".
Mas os alemães mostraram muitos aspectos positivos, uma lição para muitos clubes, principalmente para o São Paulo, na Libertadores, depois de duas derrotas contra o rival Corinthians.
O técnico entendeu a dificuldade do jogo, estudou muito bem como jogava seu adversário, soube identificar o ponto fraco, na quantidade de jogadores do meio campo, mudou seu esquema tático para tirar proveito e gerar dificuldades. Admitiu que não seria superior tecnicamente, mas se propôs a extrair o melhor que seus jogadores teriam para serem competitivos. Mais importante, os jogadores entenderam a proposta e se dedicaram em campo, correram muito e se entregaram afim de mudar o óbvio. 
Fizeram um dos melhores jogos da temporada europeia, estiveram duas vezes à frente do placar durante o primeiro tempo, não tiveram receio de atacar, finalizaram mais que os Merengues, tiveram mais escanteios. Nas duas vezes, falharam na marcação e Cristiano Ronaldo igualou o placar.
No segundo tempo, ao sofrerem o terceiro gol, no chute de Benzema, poderiam ter simplesmente assimilado o golpe e tocar a bola de lado, esperando o jogo acabar. Empataram faltando meia hora. Mas ainda tinham dois gols de desvantagem. Em certo momento, o físico pesou. A correria do primeiro tempo cobrou o preço. Mesmo o time mais preparado não aguenta tamanha intensidade.
No entanto, deram motivos para voltar para casa e orgulhar seus torcedores. Num lance que envolveu sorte e competência, tiveram um contra-ataque e fizeram um incrível quarto gol (sim, quatro gols na melhor defesa da competição). Incendiaram o jogo, deixaram todos apreensivos para saber o desfecho. A essa altura, o Real poderia ser eliminado em casa, a maior zebra dessa fase.
Pressionaram, mas não conseguiram o tão esperado gol, mas tiveram hombridade, fizeram por merecer os salários que ganham. Vão voltar para casa sabendo que fizeram o seu melhor e poderão contar que acabaram com a invencibilidade dos madrilenhos, na capital espanhola. Poucas equipes no mundo conseguem tal feito.
Uma belíssima aula de como jogar futebol. Mais uma para os brasileiros.

 
 
